terça-feira, 30 de junho de 2015

SNS

Felizmente as minhas idas ao médico são raras. Mas das poucas vezes que vou mesmo que não vá doente, acho que venho de lá doente. Mas é sempre doença do foro neurológico. Dá-me uma travadinha quando começo a ouvir as conversas que por ali se fazem.

Já tive uma aventura com uma médica que esteve a fazer frete de me atender porque achou que eu devia ter ido direto ao hospital, sem passar por ali. Tipo Monopoly estão a ver? Aquela coisa do Vá direto à casa da partida..... Ali foi igual. o frete foi tal que em menos de 5 minutos eu estava curada da minha maleita e pedi desculpa inclusivé por ter vindo incomodar a senhora e saí porta fora.

A semana passada foi na ecografia que me perguntaram : então do que se queixa? E eu disse: de nada.  Diz logo o ucraniano que me atendeu: se não se quixa de nada o que veio aqui fazer? Mas é obrigatório a malta queixar-se de algo para ir fazer exames? Não necessáriamente. Ali não dava muito jeito sair naquele momento, até porque sair literalmente com as calças nas mãos não é a minha especialidade.

Hoje foi dia de mostrar exames e depois do check-in, ou admissão, ou lá como queiram chamar, lá fui eu para a salinha de espera. O meu vestido deve ter causado sensação porque fui fulminada com os olhares. Devia ter dito onde o tinha comprado....mas sim é lindo e tem uma côr linda.

Sentei-me e coloquei o telefone no silêncio e espero pacientemente pela minha vez. Desfolhei uma revista e pimbas parece que entrei numa novela.

A paciente A entra na sala e começa o seu diálogo com a paciente B e C. A paciente A disse que ia ser atendida só ás 11h20....eram 09h00.....pergunta absurda: o que é que ela estava a fazer ali aquela hora? Aquilo até é um local agradável para se passar o dia....melhor que o PIC NIC do Continente!!!! Upa Upa!

O telefone da paciente A toca. Numa tentativa de não fazer barulho vai falar para onde? Para o hall da casa de banho....aquilo nem faz sequer eco e eu nem sequer ouvi que o gato precisava comer e que ela tinha de lá passar e que não tinha dito onde ia...ah e que trata o gato por neto. Tudo isto quase em silêncio, eu é que tenho boa audição.

Paciente B vê passar a médica de familia. Acena como se estivesse à espera de um familiar que vem no autocarro da EVA. E sai a bujarda: OLÁAAAAA DOUTORA.....vim cá ter consigo hoje. Pela cara da médica era visivel que tinha ficado radiante de a ver. Se fosse mesmo no terminal da EVA, acho que ela tinha apanhado o autocarro de volta.

Paciente D começa o seu diálogo com a amiga. Uma senhora dos seus quase 50 anos certamente. Divorciada pelo que depeendi. Com um filho que é do mais higiénico possível porque mandou o pai lavar a boca antes de falar da mãe. Há miúdos impecáveis pah! A mãe agora solteirona anda no engate, porque fez 100 tentativas para aceder ao facebook para mostrar à amiga que na 1.ª quarta-feira do mês há ladies night não sei onde, com montes de ofertas. Fez questão de frizar à amiga que tinha pedido amizade ao gerente....e que ela agora tinha mais acessos...já a amiga não porque ainda só deve ir no Nivel 2 do jogo e só chegou ao pedido de amizade com o bengaleiro.
Pareceu-me que a amiga não achou muita piada, porque se levantou e deu de fuga. Mas antes para lhe animar o dia diz a Paciente D: está mais magra! E assim com este cinismo ficaram amigas para sempre.

A coisa ainda prometia não fosse o velhote ter saído pela porta e ter chamado pelo meu nome...o aparelho está avariado.

Isto só se passou em 20 minutos, agora imagine-se que eu estava ali o dia todo? Não havia Sombras de Grey que me batessem....eu ia escrever mais volumes e faria mais filmes.

A vida passa por todos nós, mas é no Centro de Sáude que eles mais gostam de estar!!!

Haja paciência!!!!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Memories

O tempo pode curar tudo como dizem, mas o tempo não apaga da memória algumas coisas do passado.
 
As feridas são saradas e as memórias filtradas e arquivadas. O negativismo dá lugar à aprendizagem e passamos a ser mais maduros, mais experientes, mais tudo....
 
Numa fase negativa da vida, acabamos por nos encontrar connosco próprios, coisa que durante muito tempo tivemos tendência a perder. Por circunstâncias da vida, propositadamente , o que quer que pensemos....mas de facto deixamos de sermos nós para passarmos a ser outros.
 
Pouco importa isso agora, quando finalmente pegamos o fio à meada e retomamos o nosso tricot e continuamos a produção da nossa manta da vida, uma manta de retalhos...tão somente isso.
 
A vida seria tão mais simples se fossemos apenas EU e não NÓS, e quando esse NÓS é uma criança a tarefa complica um pouco mais.
 
A primeira fase são as perguntas constantes, os porquês....se antes se pergunta "porque é que a relava é verde ou o céu azul", numa fase de separação/divórcio as perguntas são tão mais difiveis de ter resposta.
 
O tempo passa , cura, mas não sei o que se passou na cabeça do meu filho ao logo desta ano e pouco....achava apenas que apesar da sua inteligência acima da média, para ele estaria esclarecido e nem sequer havia memória a falar.... Mas não, afinal não é bem assim.
 
Hoje quando vinhamos da escola para casa e assim do nada perguntou: "mãe lembras-te quando éramos familia?"...."familia como filho?"... "eu, tu , o pai e a mana?" ..... Expliquei-lhe que continuamos a ser Mãe, Pai e Mana e que apenas não viviamos juntos.
 
Perguntei-lhe se tinha saudades, prontamente disse-me : "Não, eu percebo tudo mãe".
 
Isto seria uma resposta normal não tivesse ele 4 anos. Não fiquei em nada triste, pelo contrário fiquei de certo modo aliviada com a resposta....e mais contente ainda com a conversa seguinte, super positiva e que me deixa orgulhosa do meu filho, da minha familia e do M que entrou na nossa vida. Nem conto ao M as coisas que o S me diz, porque pode achar que eu estou a inventar, que posso estar a pressionar, sei lá eu o que poderá ele pensar.
 
Para já guardo estas nossas conversas com a maior das paixões, confidencialidade  e cumplicidade. Vejo a nossa relação enquanto mãe e filho a crescer de dia para dia. Mais do que termos dinheiro (que sabemos que não é muito) , é importante que nos tenhamos um ao outro sempre, isso basta-nos. 
 
Hoje mais que nunca, sei que estou a fazer um bom trabalho enquanto mãe.
 
Obrigado por me dares este privilégio !