E cá estamos no segundo dia de tentativa de isolamento.
O vizinho já veio deixar um saco de limões...mas pediu o saco plástico de volta.
As tarefas escolares continuam a ser cumpridas para já sem grande stress.
O pai continua a ir trabalhar e a tentar encontrar soluções viáveis para que as suas tarefas se mantenham no activo e de saúde.
A mãe parece um vai-vem em constante viagem, ora aqui, ora ali.
De um modo geral estamos todos preocupados, até acho que bem mais preocupados com a forma como vamos conseguir coabitar os 5 em casa por umas miseras semanas. Pessoalmente tenho estado a ver uns tutoriais no youtube sobre yoga e mindfullness. Calculo que o filho mais velho cá de casa também deve estar a ver isso, porque ouviram os gritos no WC....devia estar a praticar.
Já comecei a planear as arrumações, limpezas e afins de modo a estar organizada. O pai fica encarregue da sua adega de modo a organizar as suas preciosas garrafas por castas, cores, sabores e outras tantas paneleiragens.
O mais novo, já o consegui arrumar no roupeiro e assim oiço menos 1000x a palavra Mãaaaaaeeeee por dia, o que de certo modo me trás alguma paz de espírito.
Inicialmente estava num espirito tuga....tudo passará e isto é apenas uma gripe e eu dou FOTI FOTI e não me vai tocar. Até porque tenho uma costela alentejana e segundo uma entrevista que vi as alentejanas não apanham o bicho.
Depois comecei a ficar preocupada e a tentar pensar de forma consciente como poderia salvaguardar-me a mim e aos meus. Nenhum de nós é profissional de saúde pelo que o contato directo com a doença seria menor desde logo. Imagino o que estas famílias estão a passar neste momento, parece uma batalha naval e na corda bamba todos os dias. O viverem na incerteza, o viverem ausentes dos seus para poderem ajudar outros que também estão privados das suas famílias.
Mas sabem o que mais me custa? O não poder abraçar e beijar com a regularidade que gosto. Custa-me horrores ter de negar os 1000 beijos que o meu filho me quer dar e simplesmente dividi-los por mais tempo. Somos os dois de afectos e gostamos tanto de estarmos colados, que agora a dor é ainda maior. Ele fica de olhos tristes e eu de faca espetada no coração por estar a ter uma atitude que me é tão contraditória. Não vou deixar de lhe dar, mas terei de ter cuidado pois vou à rua, estou em contado com outros, para poder trazer mantimentos para casa. Meu rico filho, espero que me perdoes e entendas um dia, sei que tens apenas 9 anos, mas nenhum de nós merecia passar por isto.
Nas aulas de história, nos documentários que via, nas reportagens, nos livros, lia e via muitas vezes as catástrofes e guerras do passado. Via ainda que apenas a duas cores a dor e tristeza dos que passaram por tais efemérides e a bravura com que se reergueram das cinzas para continuar a dar vida e esperança aos que sobreviveram e superaram. Jamais pensei que um dia seria eu nesse papel, seriam os meus a poder contar essa parte da história como protagonistas. Eu quero ser dos que ficam para contar, e quero que a minha familia também. Não o posso mostrar, mas tenho tanto medo pelos meus avós cuja saúde já não abunda e cujo tempo de vida também já não será longo....não quero que os leves ok? Podes deixá-los mais um tempo por perto?
Aproveito este tempo para repensar, para tentar encontrar motivação para arrancar com projectos para os quais ainda não tinha tido tempo. Agora vou ter tempo....mas preferia não o ter...significaria que estaria tudo bem e na normalidade.
Amanhã estarei de volta!!!!!
Bjs do vosso Rolinho de Papel
PS: O mais novo já está arrumadinho!!!!